Ainda abelhas


Denise Accurso

Depois da minha última crônica, descobri ser muito comum pessoas serem picadas na sola do pé por abelhas ocultas nas areias da praia.
Foram inúmeros os retornos, sempre relatando que doeu muito. Quando contei a um amigo, o décimo segundo a contar que tinha passado pelo mesmo infortúnio, o quão acompanhado ele estava, sua admiração foi idêntica à minha. Aliás, percebi que todo mundo achava que tinha exclusividade nesse tipo de “acidente”.
O que nossas laboriosas fabricantes de mel vão fazer à beira-mar? Buscar restos de picolé e caipirinha? Se alguém souber, me diga.
E houve algumas narrativas curiosas, como a da filha de uma amiga que, pisando numa abelha e louca de dor, correu para o mar e foi recebida por uma água-viva. Saiu já desmaiada, em choque, precisou ser medicada, etc, etc. Outra amiga contou que, num dia de finados, estava colhendo macela quando despertou a atenção não de uma abelha, mas de várias. Elas se entranharam em seus cabelos e, além das ferroadas, ela levou uma saraivada de pancadas desferidas com ramos de macela de seus companheiros, tentando livrá-la das agressoras.
O certo é que, por mais suposto mal que as abelhas nos façam, os benefícios superam tudo. Não falo apenas do mel que roubamos delas, mas da polinização que elas fazem, sem a qual a vida em nosso planetinha não seria possível.
Recentemente, tomando um café com uma amiga, uma abelha queria saborear minha torta de chocolate. Eu a espantei e essa amiga disse: “deixa a abelhinha em paz!” Mas era a abelha que não me deixava em paz, só foi embora quando a torta acabou. De qualquer forma, eu jamais faria mal a uma abelha.
Então, quando li no jornal que mais de cem milhões de abelhas foram mortas no Mato Grosso por pesticidas, fiquei triste. Não foram cem mil, nem um milhão, nem dez milhões. Cem milhões!
Uma ferroadinha ou outra, aqui e ali, já não parece tão grave.

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Denise Accurso

E-mail: deaccurso@gmail.com

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